A campanha #DurcesioPresidente do Botafogo — minha participação na comunicação

Thiago Pinheiro
6 min readNov 24, 2021

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Há um ano, o então candidato Durcesio Mello vencia a eleição do Botafogo e se tornava o presidente do clube para os anos de 2021 até 2024.

Hoje eu gostaria de lembrar a construção dessa candidatura. A partir do apoio do meu grupo político, Botafogo sem Medo, em abril, eu entrei para o grupo de coordenação da campanha e fui para a comunicação, área pela qual eu virei coordenador até a véspera da eleição, quando deixei a função.

Meu trabalho era criar a estratégia de comunicação e converter as propostas em itens de propaganda.

Como era uma chapa com diversos grupos políticos envolvidos, construir um discurso único não foi fácil. E, fazendo uma autocrítica, não acho que tenhamos conseguido. Nem todos concordavam sobre os temas que ganharam a campanha. Basta ver, por exemplo, que os vices continuam até hoje. Entretanto, conseguimos passar alguns conceitos que venceram a batalha das ideias.

1 — O Candidato

Durcesio não era um político. Sem uma longa história no Botafogo e sem pertencer a grupos, ficava mais fácil escrever a história como queríamos. A ideia era explorar a personalidade conciliadora do candidato e somá-la ao seu eterno otimismo. O resultado seria um enorme contraste com o ex-presidente e então vice geral, Carlos Eduardo Pereira. CEP, como é chamado, é um personagem da política alvinegra com altíssima rejeição e que, de certa forma, tinha alguma ligação com os demais candidatos. Isso ajudava a polarizar a campanha, o que nos favorecia.

2 — O Nome

Quando entrei, a campanha ainda baseava toda a comunicação em #DurcesioMelloPresidente, usando o sobrenome. O passo inicial foi focar apenas no nome “Durcesio”, com base nos seguintes conceitos:

• Aproximar as pessoas (1° nome)

• Não é comum (as buscas do Google referem-se apenas a ele)

• Mais fácil de divulgar #DurcesioPresidente x #DurcesioMelloPresidente

• Menos é mais

• quando um nome é simples e único, passa-se a ideia de força

A partir daí, tudo virou #DurcesioPresidente.

3 — Os valores

Todas as mensagens da campanha deveriam envolver 1 ou mais dos 3 itens abaixo:

Otimismo, Integração e Modernidade

Otimismo — para trazer a esperança de dias melhores para uma torcida massacrada por péssimas gestões e discursos de dirigentes que anunciavam o fim do Botafogo.

Integração — O foco, aqui, era o público interno. A política do Botafogo passou por um período de muitos ataques, brigas e divisões. Era necessário integrar os botafoguenses, deixar claro que os dias de divisões, de medo de ter opiniões contrárias havia passado.

Modernidade — “Profissionalismo” é uma palavra batida para os botafoguenses. Todas as campanhas utilizavam a palavra massivamente em todos os seus materiais, com dirigentes contrários à mudança dizendo que eram profissionais, mas com gestões bem amadoras.

A verdade é que a palavra havia perdido força e era necessário substituí-la por outra que conseguisse transmitir um rompimento com o amadorismo que assola o clube. Com isso, passamos a repetir a expressão “Botafogo Moderno” sempre que era possível.

Fiz, também, 2 observações quanto aos valores:

• Ao sofrer um ataque da campanha adversária — e se for necessário responder –, deve-se buscar sempre o isolamento do adversário, colocando-se como oposto.

• Ao falar de problemas, relacionar a solução a práticas modernas e mostrar-se otimista na sua implementação.

4 — Nome da Chapa

Tendo em mente os 3 valores, o nome que sugeri e acabou aceito para a chapa foi “Botafogo de Todos”. Eu mesmo não gostei do nome inicialmente, como consta a observação que encaminhei no documento sobre o planejamento da comunicação:

“BOTAFOGO DE TODOS (não precisa ser o nome, mas, sim, um dos valores. Em época de consciência social e considerando que o foco será nos esportes olímpicos, a preocupação com os funcionários e o papel social do esporte cresce bastante) — Não gostei do nome, mas concordo com o espírito. Acho importante também passar o sentimento de valorização do Sócio-Proprietário, que hoje se sente completamente abandonado.”

Mas o nome acabou ficando. Embora nomes de chapas não tenham muita importância na campanha do Botafogo, defendo que cada detalhe importa. Passar o que acreditamos até no nome era algo importante.

5 — Planejamento

Este era o planejamento inicial da campanha. Claro que uma campanha com tantos atores fica difícil prever o que pode ser feito e o que acontecerá. E tudo mudou, até pela incerteza que tínhamos da pandemia.

6 — Público

Em uma eleição para um clube de futebol social, você tem 2 públicos. O interno é aquele que compõe o quadro social. O outro é o externo, composto dos demais torcedores.

Você se elege no restrito quadro social, mas são os torcedores que te dão legitimidade para governar durante o mandato. Então, é importante ganhar o votos dos sócios e o coração dos torcedores. É durante a campanha que você adquire capital político para realizar as mudanças e fazer a torcida voltar a sonhar — uma necessidade de cada botafoguense assolado por pesadelos.

Estávamos no meio da pandemia e uma maneira que encontramos foi prestigiar as lives dos diversos influenciadores, além da imprensa tradicional. Por mais que, à época, Durcesio ainda estivesse encontrando a melhor maneira de se comunicar devido à falta de experiência em entrevistas, reforçar a importância dos representantes dos torcedores era, na medida do possível, valorizar e dar atenção aos botafoguenses.

Embora favorito, Durcesio foi, de longe, o que mais compareceu a entrevistas e lives de canais botafoguenses.

7 — Vídeos

Fui responsável por criar os pequenos vídeos traduzindo o material da campanha. Foram feitos 5 vídeos para o Instagram falando sobre como víamos o Botafogo e o que pensávamos para ele. A minha experiência com vídeo era zero, mas acredito que tenhamos conseguido passar a mensagem.

1 — Entendendo o Clube

2 — Receitas x Despesas

3 — Diretrizes para uma gestão moderna

4 — Quem fará a gestão moderna do Botafogo

5 — As Unidades de Negócio

Além disso, fiz um vídeo no After Effects com uma ideia que tive no clube. Aprendi a mexer rapidamente no programa e montei este vídeo com alguns dos valores que acreditávamos e “fugindo” do que queríamos longe do Botafogo.

7 — Saída

Eu deixei a comunicação no final de outubro por discordar da interferência de pessoas sem conhecimento de comunicação no material que havia sido produzido e planejado para a reta final. Com diversos grupos políticos e disputa de poder, a comunicação resistiu enquanto pode aos pitacos.

8 — Discurso após a vitória

Uma campanha, claro, tem que prever todos os cenários. Pela manhã, no dia da eleição, pensando que não haviam pensado em uma mensagem para a torcida, escrevi um discurso com uma mensagem aos torcedores, com o que acreditava que fosse uma mensagem positiva para a torcida e que simbolizasse o que Durcesio representava como presidente eleito.

Reuni-me com Durcesio naquela manhã em General Severiano e ele aprovou a ideia, gostando da mensagem. Para evitar problemas, chequei com outras lideranças da campanha o tom e todos aprovaram.

Como bom botafoguense, era melhor esperar para gravar a mensagem. À noite, com a maior parte dos sócios já tendo votado, já teríamos uma ideia do resultado.

Com a noite, tínhamos um problema: não há iluminação em General Severiano (ou não ligaram). Estava quase tudo às escuras e foi difícil encontrar um lugar para gravar. Por fim, com muita dificuldade, conseguimos gravar e passar uma mensagem de otimismo à torcida. Guardo até hoje comigo o papel que Durcesio leu na mensagem:

O discurso da vitória do #DurcesioPresidente

O final vocês já sabem. #DurcesioPresidente não era mais uma hashtag, mas a realidade. Foi eleito com ampla maioria de votos e se tornou o presidente do Botafogo para os anos de 2021 até 2024.

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Thiago Pinheiro

Jornalista e fugitivo arrependido do curso de Literatura