Dammit, eu estava errado
O Blink 182 não entraria em um TOP100 das minhas bandas favoritas; mas, para mim, ele é representativo do final de século XX e de uma fase da minha vida.
Eu precisava de velocidade, parecia que nenhum disco a tinha em velocidade adequada. Quer dizer, sempre havia o hardcore. Mas, se a música era uma viagem, andando a 300km/h você não vai conseguir apreciar a paisagem, era preciso algo abaixo da agressividade do HC.
Eram os anos 90. O Ramones já tinha acabado, os críticos musicais ainda pensavam que o futuro estava em algo relacionado ao Prodigy. O Green Day já havia se esquecido do “Nimrod” e o Offspring — infelizmente — já parecia estar nos anos 2000 com o “Americana” e a insuportável “Pretty Fly (for a White Guy)”.
E aí surgiu algo que parecia ser uma versão da brincadeira do Offspring: “All the Small Things”. As 2 músicas, claro, soavam muito melhores com os clipes, verdadeiras piadas e provocações com tudo aquilo que odiávamos.
Eu conhecia Offspring há anos, então, tinha os discos. Então, “Pretty Fly” e todos os carros e rádios que a tocavam soavam como um acidente de percurso. Ou, talvez, a minha mente extremamente fechada da época apenas enxergasse esta opção. Mas, então, eu era capaz de (hahaha) perdoar o Offspring, mas eu não conhecia o Blink 182. Eu não fazia a menor ideia do que pensar. Logo, descartei.
Assim, o Blink 182 entrou naquela categoria de bandas que eu detestei da 1ª vez que ouvi, mas que entraram nas preferidas em determinado momento depois. Juntou-se ao Toy Dolls, Who e Crass. Uma bela companhia, embora o Blink esteja bem abaixo de todas essas.
Mas havia mais ali, felizmente. Eu não tinha a menor ideia de que havia um antes do Blink e que, como no Offspring, aquela música era a exceção, mesmo que, claro, os integrantes do Blink fossem uns palhaços.
Naquela época, se você quisesse ver alguma banda e não gostasse de metal, sobravam as tardes e noites de hardcore melódico. As boates eram lugar para o indie rock, coisa que eu abominava na época. Punk era, como quase sempre foi, inexistente. Quando existiam, pareciam muitos mais ligadas ao hardcore inglês ou NY. Violentas e com pouca melodia. Não era a minha.
Enfim, sobravam os milhares de shows de bandas de hardcore melódico, uma febre, então. Parecia que todo mundo com menos de 22 anos era fã de No Fun at All ou NFOX, 2 bandas que nunca me fizeram a cabeça. Nestes shows de pulinhos ensaiados no Black Night, Casa da Zorra, Beco da Bohemia, Garage ou seja lá onde houvesse um barulho, estaríamos lá, comigo a torcer por um cover ou que alguém que fugisse daquela fórmula. Olha, como eu vi bandas assim…
E, em um desses dias, entre uma banda e outra, eu ouvi “What’s My Age Again”. No meu inglês mediano da época, entendi poucas coisas, mas dava para captar o principal, embora o título já deixasse claro o que havia lá. Eu adorei o que eu ouvia e não podia esperar para ouvir calmamente e entender o que havia depois do “Nobody likes you when you’re 23”. Comprei naquela mesma semana, na antiga Saraiva Mega Store do Centro, aqui no Rio de Janeiro.
Eu ainda estava longe dos 23, mas tudo aquilo fazia sentido. Claro, eu nunca fui o palhaço da turma e, talvez, eu tenha sido o cara que disse “you should act your age” — eu realmente espero que não -; mas, da minha turma do prédio, eu fui o 1º a trabalhar e é claro que isso te transforma.
O Blink 182 talvez tenha chegado um pouco tarde, mas a reflexão sempre me perseguiu. Aliás, idade e reflexões sobre ela parecem ser uma temática constante na banda. O que é agir conforme a sua idade? “Qual é a minha idade mesmo”?
Diz-se muito das preferências musicais, de como os gostos mudam conforme se envelhece. Muitos largam bandas e discos pelo caminho. Não é o caso aqui. O Blink, de uma maneira ou de outra, sempre estará lá para me lembrar que uma banda é mais do que uma música e que, principalmente, a música não precisa desacelerar nunca.