Na Sua Pior Hora, o Botafogo Precisa Salvar o Seu Futuro

Thiago Pinheiro
6 min readFeb 6, 2021

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Um texto sobre o presente do nosso Botafogo, como eu vejo o passado e o que precisamos fazer para o futuro

Foto por Botafogo/Vitor Silva (ver final do texto)

O Botafogo foi, mais uma vez, rebaixado. Mas a queda e o colapso financeiro foram gestados durante anos e anos de incompetência. Um desastre como o que estamos vivendo é um trabalho de longo prazo.

Em quase todos os últimos anos, o foco das gestões foi sacrificar o futuro para ter melhoras no presente. Ninguém se importava com o futuro do Botafogo.

Reformas estruturais foram trocadas por verdadeiros voos de galinha.

Não somos a vergonha da série A apenas na tabela. O Botafogo paira sozinho também como lanterna na falta de um Centro de Treinamento adequado que impossibilita, em 2021, treinar em 2 períodos.

Isso é inimaginável. Mesmo tendo recebido uma doação dos irmãos Moreira Salles, festejada com pompas pela última gestão, foram incapazes de evoluir. Pelo contrário, conseguiram é arruinar ainda mais a relação com a dupla benfeitora alvinegra.

Indo mais longe, cito esta matéria de 2012, quando o outro maléfico presidente lançou mais uma pedra fundamental de um CT. 2012. CT. Brincaram com a torcida.

A receita do Botafogo foi sempre comprometer as finanças futuras em troca de um brilhareco no presente, sei que já estou me repetindo. Arena da Ilha e os milhões com o basquete e outros esportes são exemplos, mas há muitos mais. E uma hora a conta chega.

O futuro chegou. E ele não é nada agradável.

O clube precisará ser reconstruído. Internamente, a estrutura é precária para o tamanho que temos. Bons funcionários sem liderança adequada. Nunca houve plano de gestão, metas, nada. Não havia sequer organograma, mal se sabia as atividades das pessoas.

Não são eles, é verdade, que colocam a bola para dentro ou fazem o maldito lateral direito da vez voltar para marcar. Mas é a estrutura que se comunica com o torcedor, que cuida do estádio, que consegue patrocínios. Um bom time precisa de um bom clube.

O clube era uma mentira. Verdadeiras pedaladas orçamentárias eram feitas em prol de números melhores. Dirigentes revezavam-se em atacar a torcida e inventar factoides.

O profissionalismo alardeado por muitos era uma farsa. Os amadores corromperam toda a estrutura, atrapalhando os profissionais em troca de flashes e likes. Empresas completamente desconhecidas passaram a cuidar de tudo. Da turma da praia à seita, o Botafogo virou uma festa privada.

O Botafogo precisa mudar. Não há mais espaço para amadores decidirem o futuro de um clube de quase R$200 milhões de receita. São 117 anos fazendo a mesma coisa, com pouquíssimos resultados. O mundo já mudou, não é possível que alguém ainda defenda o modelo de amadorismo que nos levou até aqui.

É preciso blindar os profissionais dos pitacos dos amadores. Romper a estrutura de vice-presidentes com a chegada do CEO. Ter orçamentos e balanços compatíveis com a realidade. Nos aproximar da torcida, ouvindo-a e abrindo o clube para que ela possa votar.

Não podemos, de qualquer maneira, repetir o passado. Chega de amadorismo e mentiras.

Entendo que a cobrança em mim seja mais forte. Durante os últimos 12 anos, fui um dos poucos a estar na oposição ininterruptamente. Quando denunciamos (eu, Fernando Lôpo e Fred Bastos) os 100 milhões em adiantamentos do CEP logo após a classificação para a Libertadores em 2016, fomos atacados impetuosamente por influenciadores e torcedores nas redes sociais. Conselheiros se revezaram, covardemente, para nos atacar na tribuna do CD, sem direito à defesa.

Mas continuamos a acreditar que estávamos certos e que os adiantamentos e a mentira contada pelo ex-presidente eram extremamente prejudiciais ao futuro do clube. O tempo nos deu razão.

Minha postura combativa colocou-me em posição de vidraça agora. É natural e já esperava. Entretanto, eu desisti de realizar as mudanças do lado de fora. Em todos esses anos de oposição, sentei-me com dirigentes do Botafogo para colaborar e vi que de nada adiantou.

Em 2009, estivemos (eu, Fernando Lôpo e Vitor Alves) por semanas reunidos com o então diretor de Marketing, Márcio Padilha, para elaborar um projeto de sócio torcedor com direito a votar, já contemplando as mudanças estatutárias. Foi jogado na lata de lixo em troca de um adiantamento com a empresa que já fazia o programa à época. Verdade seja dita: Padilha nos apoiou e perdeu internamente.

Lamento demais esse episódio. Era um bom programa, baseado no conceito de operadora de TV. Você pagaria por cada pacote que consumisse. Anos depois, esse modelo foi adotado. Mas já poderíamos ter tido um ST com voto em 2009.

Aquela colaboração quase me levou a romper com o meu antigo grupo político, gerando um aborrecimento enorme. Mas eu nunca deixei de colaborar, só não peço holofotes.

Com a vitória do CEP/Mais Botafogo em 2014, reuni-me novamente com dirigentes voltando a explicar o conceito do sócio torcedor baseado em pacotes e as alterações estatutárias necessárias. Também revi diversas notas oficiais publicadas no site cheias de erros gramaticais e de concordância. Anos depois, descobri que eram publicadas diretamente pelos dirigentes, sem passar pela assessoria.

CEP com a nossa proposta (2015)

Mas eu cansei. Quer dizer, cansei de brigar do lado de fora. Em 2014, eu e Fernando Lôpo panfletamos em jogos no Maracanã, no Nilton Santos e em reuniões do Conselho Deliberativo, defendendo o Sócio Torcedor votando e sendo votado, além da separação do futebol do social. Em 2015, na reforma estatutária, entregamos um projeto que defendia estes 2 itens, além de uma mudança na estrutura da administração, extinguindo os vices e criando o Conselho De administração. Ignorada, claro.

Importante ressaltar também que o Botafogo sem Medo foi o primeiro a falar de Botafogo SA no clube. Em janeiro de 2018, já defendíamos o modelo neste texto aqui: “Futebol SA

Foi quase confortante saber que, anos depois, o clube inteiro entendeu que esse era o modelo a ser seguido. Subitamente, a SA tornou-se o modelo defendido por todos, incluindo aqueles que, anteriormente, nos chamavam de “moleques” e “malucos”.

Mas sabíamos que o discurso era da boca para fora. Por dentro, às portas fechadas, a história era outra.

Cansados, chegamos, assim, à conclusão de que a verdadeira mudança tem que ser feita dentro do clube. Por mais que tenhamos influenciado na batalha de ideias, são o voto e o jogo político que realmente mudam o Botafogo.

As bandeiras defendidas pelo Botafogo sem Medo sempre foram a Democracia no Botafogo (o voto do ST), a separação do futebol do social e a transparência nos atos da gestão. Foi com essas ideias que chegamos até o Durcesio. Ele se comprometeu com elas e decidimos apoiá-lo.

É por dentro que queremos influenciar o Botafogo. Garantir mudanças para o longo prazo para que, nunca mais, dirigentes possam sacrificar o futuro em troca de um pequeno brilho no presente. Defender o profissionalismo para que nunca mais um amador faça um tweet dizendo que ele mesmo contratou um jogador baratinho.

Sabemos, também, que é necessário olhar para trás. Entender os últimos anos, o que foi feito. Não se pode mais, como cada dirigente que passou fez, defender o passado como garantia de que irão defendê-lo no futuro. Não mais. É necessário passar a limpo a história, ouvindo cada um que a construiu. Isso leva tempo, muito mais que gostaríamos. Mas é obrigação moral deste Conselho Deliberativo.

Sei que pedir paciência, ainda mais neste momento, é injusto. Para a torcida, são dirigentes que se revezam no cargo cometendo as mesmas barbaridades. Ninguém aguenta mais.

Mas há caminhos que, se forem seguidos, podem significar um novo Botafogo após 117 anos seguindo na mesma direção. Não será fácil, mas poderemos ter, muito em breve, um clube com um CEO tomando conta do dia a dia, com diretores profissionais tocando as suas áreas.

É nisso que eu acredito, eu sonho há anos com um Botafogo sem amadores. Pela 1a vez, me parece real. Pela 1a vez, também, vejo um presidente defender publicamente e trabalhar internamente por isso.

Apesar de todo o caos, ainda vejo esperança. Eu quero que o Botafogo se modernize.

Um abraço a todos os irmãos e irmãs alvinegros nesta pior hora.

OBS: não citei nomes, os números sabem muito bem quem eles são.

OBS2: É papel dos conselheiros defender o profissionalismo, não decidir o técnico. Mas fica o questionamento se vale o esforço de manter um técnico que conseguiu se colar ao rebaixamento, mesmo tendo mínimas chances de escapar. E que, além disso, conta com a antipatia de quase a totalidade da torcida.

A foto original, que abre o texto, pode ser encontrada aqui. Ela foi espelhada.

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Thiago Pinheiro
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Written by Thiago Pinheiro

Jornalista e fugitivo arrependido do curso de Literatura

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