Uma criptomoeda como moeda digital em um clube de futebol

Thiago Pinheiro
6 min readSep 10, 2021

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Uma introdução a como uma criptomoeda poderia ser adotada por um clube para servir como meio de pagamento e reserva de valor

O presente é digital e o clube precisa estar presente cada vez mais na vida do torcedor

O mercado de criptomoedas finalmente chegou ao Brasil. Com as iniciativas de Vasco e Cruzeiro com tokens e, agora, Atlético/MG e Corinthians com seus fan tokens da Chiliz, o nosso país vai ingressando nesse mundo digital.

Há, ainda, uma 3ª opção para os clubes nas criptomoedas. Uma moeda digital própria, que fortaleça a relação com os torcedores e seja, também, um investimento para quem a comprar. A moeda não servirá apenas para votações ou reserva de valor; ela poderá, também, ser usada para pagamentos em todas os serviços e produtos oferecidos e, quem sabe?, entre os próprios torcedores.

Neste texto quero falar sobre como seria possível a criação deste tipo de moeda, mas sem detalhar muito tecnicamente o seu funcionamento, já que, obviamente, há muitos assuntos nos quais seria melhor ouvir os especialistas. O objetivo aqui é mostrar que existem outras possibilidades.

A CRIAÇÃO DA CRIPTOMOEDA

Uma criptomoeda é, basicamente, um contrato digital. Os seus parâmetros, após criados, não podem mais ser alterados, por isso a fase inicial de planejamento é importantíssima e os cálculos devem ser feitos com cuidado.

Deve-se, por exemplo, definir a quantidade de moedas. Elas não poderão mais ser alteradas, nem haverá a possibilidade de criar novas. Isso garante a confiabilidade do sistema.

O Corinthians, por exemplo, criou 20 milhões, mas colocou à venda, inicialmente, 850 mil. Na 2ª rodada colocou mais à venda, mas não encontrei o número correto. É um caminho normal, mais à frente eles podem colocar mais moedas à venda. Os 2 principais fan tokens do mundo (PSG e Manchester City), também criaram a moeda com 20 milhões de tokens, mas hoje cada um tem cerca de 3 milhões de tokens em circulação.

Esse cálculo é importante para impedir a inflação e a desvalorização da moeda. Encontrar um meio termo entre a demanda e a oferta é um desafio, mas eu prefiro apostar na escassez.

REQUISITOS

• Uma parceria com um banco digital para fazer a conversão do dinheiro em criptomoeda (e vice-versa) e que permita que um futuro app do clube funcione como carteira, habilitando pagamentos.

• Autorização do Banco Central (acredito que seja necessário, mas não tenho certeza)

• Um sistema de conversão de moedas para quando os pagamentos forem realizados

O INÍCIO

No exemplo, vamos citar o Botafogo, clube no qual eu tenho mais familiaridade.

• moeda: $Fogo
• moedas criadas: 5 milhões
• oferta inicial: 500 mil moedas
• preço inicial: R$5

Apenas no momento do lançamento é possível definir o valor da moeda, com o clube sendo o único possuidor da moeda. Depois, os torcedores podem vender entre si ou, quem sabe, o clube realizar parcerias com outros estabelecimentos para que eles aceitem a moeda. Ou eles podem aceitar por conta própria.

No exemplo acima, eu informei que 500 mil moedas foram postas em circulação inicialmente. Inundar o mercado com a moeda derrubaria o preço. Por isso é importante ofertar uma quantidade menor e definir vendas periódicas dos valores adicionais, apenas se existir uma alta procura.

A UTILIZAÇÃO

O clube deve estar preparado para que toda relação que envolva pagamento (uma bebida no estádio, a camisa na loja ou a mensalidade do sócio-torcedor) possa ser feita com a moeda digital. É isso que incentivará a sua utilização, não apenas a reserva de valor ao guardar a moeda.

Obviamente, nem todos os torcedores farão uso deste tipo de pagamento. O clube, então, deve ter esse cuidado nas suas lojas, sejam elas virtuais ou físicas. Os preços sempre devem estar em reais, com a conversão para a moeda do clube sendo feita na hora do pagamento.

O ideal é que o site e as lojas possam exibir, em tempo real, a cotação da moeda, facilitando o cálculo.

VANTAGENS PARA O CLUBE

Além do aporte de receita já na venda inicial (ICO — Initial Coin Offering), o clube pode ter como parceiro um banco digital que já teria a oportunidade de ter milhares de clientes instantaneamente.

A moeda ajudaria a reforçar a relação entre os torcedores e o clube, considerando que a interação pelos apps aumentaria, já que há a moeda passaria, também, a ser um investimento.

VANTAGENS PARA O TORCEDOR

Inicialmente, é importante ressaltar que ele não pagará a mais pelos serviços. Estes continuarão a serem oferecidos em reais do mesmo jeito. Há, claro, o risco de a moeda se desvalorizar, mas ações com pouco ou nenhum custo para o clube, como visitas ao estádio ou concentração, cupons para concorrer a camisas etc., devem ser oferecidos para evitar a frustração da moeda derreter.

Além de poder pagar pelos serviços, a moeda também pode ser um investimento, caso o clube tenha uma boa gestão.

OS CÁLCULOS

Considerando o Botafogo, de acordo com o site do sócio-torcedor, o clube recebe, hoje, cerca de R$202 mil mensais com o programa. Calculando que cerca de 20% adiram à modalidade, teríamos, então, R$40 mil por mês em pagamentos pela moeda digital.

Vou considerar, ainda, que o clube venda, nas suas plataformas próprias, e já descontando o valor dos fornecedores, R$5 mil por mês. Mantendo os 20%, seriam mil reais mensais.

Teríamos, assim, 45 mil reais para serem pagos por mês com a moeda digital. A cotação dela é que dependeria do mercado. Se a moeda atingisse o valor de R$7, seriam pagos para o clube 6.428,57 em moeda digital. 6500, para arredondarmos.

Note, então, que o clube teria, na prática, 20% menos de receita em reais, já que teria na mão a moeda digital. Como converter isso em reais? Revendendo-os para o mercado.

O RISCO DA DESVALORIZAÇÃO

No exemplo acima, o clube receberia as 6500 moedas. Isso equivale a 1,3% de todo o mercado. A sua venda certamente forçaria o preço demasiadamente para baixo, desagradando os torcedores. Por isso, existe uma funcionalidade no mundo das criptomoedas para esse caso: a queima.

É possível que qualquer um queime as moedas, inutilizando-as permanentemente, diminuindo o número de moedas em circulação e, consequentemente, valorizando o preço. De forma resumida, o dono das moedas as destina para uma carteira inexistente (“o buraco negro”), fazendo com que elas sejam perdidas para sempre.

Como o clube ganha uma margem boa na venda inicial, não é necessário vender sempre as moedas recebidas. Pode-se estabelecer uma data semestral para essa venda, priorizando os seus sócios-torcedores. E realizar vendas menores para sócios-torcedores que façam uma carteira no banco digital parceiro.

Esses são cálculos mais complexos, muito mais adequados a um economista.

O MUNDO IDEIAL

Como seria o funcionamento a pleno vapor da moeda digital em um clube para o torcedor?

• Poderia vender as suas moedas, como em uma bolsa de valores.

• Realizar pagamentos via QR Code em estabelecimentos do clube ou diretamente para outros torcedores.

• Guardar as suas moedas, esperando a valorização.

CONCLUSÃO

O mundo das criptomoedas é fascinante e abre espaço para diversos usos. Há inúmeras soluções que permitem pagamentos rápidos e com baixíssimo custo, tornando possível o que foi descrito acima.

Seria uma revolução na relação entre torcedor e clube. Espero que não estejamos muito longe disso.

Crédito da foto: ydsawai05186047

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Thiago Pinheiro

Jornalista e fugitivo arrependido do curso de Literatura